Neste texto iremos finalizar nossa série falando um pouco sobre o papel da atividade física no pós-tratamento, que está relacionado tanto a manutenção da qualidade de vida, quanto ao aumento da sobrevida e redução das recidivas.
Esse momento é aquele em que o paciente já passou pelo tratamento primário (cirurgia, radioterapia e quimioterapia), ou seja, quando há uma diminuição de risco, dos principais sintomas e dos efeitos agudos da doença. Aqui vamos considerar diversas progressões:
· O tratamento finalizado;
· Período entre o fim de uma rodada e outra de ciclos de tratamento, seja com intenção curativa e/ou de prevenção de continuidade da doença;
· Opção paliativa (visando exclusivamente a qualidade de vida).
Como esses quadros são amplos, podemos nos deparar com muitas situações. Pacientes totalmente livres de sintomas ou ainda apresentando sintomas e efeitos adversos como consequência da doença ou do tratamento.
Quais são os principais problemas enfrentados por um paciente nesses quadros relatados?
Fadiga, fraqueza, linfedemas (pacientes que retiram linfonodos comumente apresentam inchaço decorrente da má drenagem de fluidos). Aqueles que vieram de processos cirúrgicos podem apresentar mudanças anatômicas importantes que reduzem a amplitude de movimento e diminuem a independência do paciente, ocorrendo em muitos casos, episódios de ansiedade e depressão.
O objetivo principal de um programa de atividades, assim como nas outras etapas, é a manutenção da função física, com foco no tônus muscular. O principal benefício é devolver a amplitude de movimentos e a independência comprometidas em alguns sobreviventes. Doses especificas de exercícios aeróbicos, resistidos ou a combinação dos dois também atuam reduzindo a ansiedade e os sintomas depressivos.
A atividade física pode garantir a manutenção da autonomia do paciente, recuperando a saúde física e mental, amenizando os efeitos colaterais de curto e longo prazo.
Nesse momento terapêutico, o exercício físico pode ser utilizado como um mecanismo de atenção e cuidado permanente, prevenindo recidivas, além de outras doenças relacionadas ao sedentarismo (diabetes, obesidade e problemas cardiovasculares).
Neste ponto, em que o paciente tem maiores possibilidades, a escolha de uma modalidade que seja prazerosa é essencial.
Apesar de termos muitas informações consolidadas acerca do tema, ainda há um longo caminho a percorrer, tanto no Brasil quanto no mundo. Diversas barreiras ainda estão no caminho do sucesso de programas terapêuticos relacionados a atividade física em sobreviventes.
Os principais desafios para incorporação do exercício físico são:
· Relativa baixa aderência aos programas de exercício (40-60% desistem antes da metade do programa);
· Efeitos colaterais do tratamento;
· Inexperiência dos profissionais que prescrevem e acompanham as atividades;
· Momento oportuno para introdução nas atividades. A implantação da periodização (atividade física entre ciclos de quimioterapia por exemplo) eleva em 25% a aderência;
· Geralmente os estudos clínicos são voltados aos pacientes com os tipos mais comuns, mama e próstata. Os outros tipos ainda requerem estudo mais aprofundado.

Em relação à literatura científica, há uma ausência de dados, ensaios clínicos e documentação orientadora na área. Isso gera uma escassez de interesse na promoção de cursos de capacitação de profissionais, tanto da área de educação física como na de médicos oncologistas. Esta parece ser a principal barreira da área no Brasil e a consequente escassez de profissionais habilitados.
A popularização do setor geraria uma criação de espaços especializados, não somente nos centros universitários, como acontece atualmente, mas para a população em geral, que se sente mais segura com acompanhamento profissional adequado após um tratamento, em muitos casos, agressivo e limitante.
Ao redor do planeta, estudos clínicos já estão mais avançados, com pesquisas datando dos últimos 20 anos, momento em que o paradigma de “doença e repouso” começou a se modificar. Por enquanto. há uma dificuldade técnica em realizar estudos de meta análise, pois as variáveis são muitas (gênero, idade, condições socioeconômicas, doenças concomitantes) e o estudo é relativamente recente para se poder isolar os resultados de forma conclusiva
Os principais benefícios do exercício na fase pós-tratamento são resumidos em documentos de recomendações, guias e posicionamentos sobre a prática de exercícios físicos para sobreviventes do câncer, produzidos por sociedades e associações incluindo o Colégio Americano de Medicina Esportiva, Associação Australiana de Exercício e Ciência Esportiva e a Sociedade Espanhola de Oncologia.
Outra questão que poderia auxiliar é a divulgação científica e difusão de informações da prática segura da atividade para o sobrevivente. Algumas iniciativas internacionais, como a do movimento Moving Through Cancer, com uma agenda de implantação terapêutica das atividades até 2029 através de políticas públicas de colocação da atividade física como padrão ouro de prevenção e tratamento oncológicos. Infelizmente o Brasil e a América Latina não estão inseridos nesse contexto.
A produção de conhecimento em universidades e hospitais tende a gerar ambientes propícios a esses movimentos, que em países de alto IDH (índice de desenvolvimento humano) já existem. Nestes, o câncer tem sido tratado como problema de saúde pública, pois gera redução da capacidade produtiva, alto gasto com diagnóstico e tratamento.
Importante ressaltar que, assim como nas outras etapas, qualquer movimento conta, e o mais importante é se manter ativo, aliar exercícios aeróbicos, de força e relacionados a mobilidade, como o alongamento, será sempre a melhor saída, com especificidades para cada tipo e adequados a cada um, no que diz respeito às limitações físicas, da mesma forma que trazendo uma modalidade que agrade, a manutenção do programa será sempre mais duradoura e, portanto, benéfica.
Revisitando todas as informações que obtivemos nessa série de textos, algumas são mais relevantes:
- Alguns mecanismos de prevenção ao câncer em que a atividade física atua já são conhecidos e mapeados, principalmente relacionados a resposta imunológica.
- A escolha adequada da atividade, tanto em relação às questões físicas, quanto à agradabilidade da modalidade são fatores cruciais no sucesso de qualquer programa de exercícios.
- Há a necessidade de maiores estudos e interesse na área para que a implementação de programas de atividades físicas se torne padrão ouro em prevenção e tratamento.
- É urgente a necessidade de capacitação de profissionais que possam orientar os pacientes e deixá-los mais seguros quanto a prática.
- A atividade física é benéfica em qualquer fase e momento da vida, tendo de ser dosada conforme idade, condicionamento e doenças coexistentes.
Se você se interessou por este conteúdo e tem vontade de se aprofundar neste tema, aqui estão algumas sugestões:
Atividade Física e Câncer: recomendações para prevenção e controle | INCA
Moving Through Cancer – Exercise is Medicine
Atividades Físicas e o Paciente com Câncer – Instituto Oncoguia
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Nogueira, H. S., & Lima, W. P. (2016). Linfoma de Hodgkin, quimioterapia e exercício físico: respostas hematológicas e de desempenho físico. RBPFEX Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, 10(62), 782-797.
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica – SBOC Atividade Física e Câncer: Recomendações para Prevenção e Controle / Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica – SBOC – São Paulo: SBOC, 2022. Disponível em https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/atividade-fisica-e-cancer-recomendacoes-para-prevencao-e-controle. Acesso em: Dez 2022.
Castro Filha, J. G. L. D., Miranda, A. K. P., Martins Júnior, F. F., Costa, H. A., Figueiredo, K. R. F. V., Oliveira Junior, M. N. S. D., & Garcia, J. B. S. (2016). Influências do exercício físico na qualidade de vida em dois grupos de pacientes com câncer de mama. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, 38(2), 107-114.
M.E.L.M., Bezerra, V.V.B.S.,Bomfim, B.T.T., Souza, C.D., Guimarães, P.F., Ferreira, M.D.I.S., Arruda. Fração prevenível da atividade física e câncer. Research, Society and Development, v. 10, n. 8, e50410817565, 2021J.
Phys. Educ. v. 33, e3301, 2022 EXERCÍCIO FÍSICO PARA O TRATAMENTO DO CÂNCER: EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS E O CONTEXTO BRASILEIRO. Deminice. R. Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR, Brazil
Ewelyse Marques Maggio Sansana
Farmacêutica bioquímica CRF-PR 19829
Voluntária da Equipe Editorial do C.A.P.O. Bezerra de Menezes
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