Saúde: Uma Abordagem Médico-Espírita

A saúde é entendida como o reflexo do equilíbrio do ser em relação às leis divinas. Na visão espírita, o homem é um ser imortal, alguém que preexiste à vida física, que sobrevive ao fenômeno biológico da morte e, ao longo do processo evolutivo, através da reencarnação, vai crescendo, desenvolvendo-se em direção a Deus. A saúde do corpo físico é um reflexo do nível de equilíbrio desse espírito no processo evolutivo perante o amor, o belo e o bem. Já a doença é uma sinalização interior de reequilíbrio, convidando o ser a reconectar-se com o amor e com a fonte. É uma mensagem gerada no mais profundo da realidade espiritual do ser e que se reflete no corpo físico como um convite à reconexão com o amor, ao desenvolvimento do autoamor e do amor ao próximo.

Nessa visão, a saúde e o adoecimento são construções do próprio homem e ninguém é vítima de nada, senão de si mesmo, das suas próprias decisões, das suas próprias escolhas, daquilo que decide e determina em sua vida. Portanto, toda cura é também um fenômeno de autocura, porque, para que ela se instale em definitivo, é necessário que haja não simplesmente um alívio dos sintomas e uma resolução do processo biológico no corpo físico, mas também uma reformulação moral do pensamento, do sentimento e da ação, fazendo com que o ser esteja transformado em profundidade, em consonância com a lei divina, ou seja, mais em sintonia com a lei do amor.

O amor é o grande medicamento, é a grande finalidade da existência. Na verdade, nós caminhamos em direção a Deus como o “filho pródigo” da parábola de Jesus, reconectando nossa relação com o Pai e retornando para a casa de Deus, que, na verdade, é dentro do nosso próprio coração, onde Deus está. Pouco a pouco, vamos fazendo isso, descobrindo as nossas virtudes, a grandeza íntima que há dentro de nós, tudo aquilo que Deus nos deu como possibilidade evolutiva e que pode nos realizar plenamente.

Nesse contexto, o amor representa um movimento medicamentoso por excelência, enquanto movimento de respeito, de consideração, de valorização, de inclusão, de consideração. Ele nos trata as doenças da alma, que são orgulho, egoísmo, vaidade, prepotência, arrogância, e nos coloca em sintonia com a fonte, que é Deus, nos auxiliando a reconectar-nos com o Pai. Desenvolver o amor é o caminho mais rápido, fácil e eficaz para a cura da alma e do corpo.

Também o perdão é condição essencial para a saúde. Sem o perdão, não há paz interior, não há saúde nem física, nem emocional. Shakespeare dizia que não perdoar ou guardar mágoa é como beber veneno, desejando que o outro morra. O veneno age naquele que o guarda, que o cultiva dentro de si. E a mágoa atua dentro de nós na semelhança de uma planta que, uma vez guardada, cultivada, vai crescendo, criando raízes, dá flores, frutos e multiplica-se. E nós acabamos enredados em uma série de dores emocionais, sem que nem saibamos, às vezes, onde tudo começou. Tudo porque vamos guardando as coisas dentro de nós, sem trabalhar, sem dialogar, sem metabolizar emocionalmente aquilo que estamos sentindo, vivenciando. Quando vemos, a situação está numa questão muito profunda e muito grave.

Saúde: uma abordagem médico-espírita - CAPo Bezerra de Menezes

Para que tenhamos paz, é necessário que abracemos o perdão como um projeto. O perdão é uma decisão pela paz, que se traduz em atitudes pelo estabelecimento dessa paz, no entendimento das questões emocionais, das nossas características pessoais, das circunstâncias que envolvem o ato agressor e da responsabilidade e corresponsabilidade nossa no processo. Ele se traduz como um processo, porque não se dá da noite para o dia. Ele se constrói ao longo do tempo e através de atitudes sucessivas de busca dessa metabolização emocional que, muitas vezes, precisa de um acompanhamento terapêutico profissional, através de um psicólogo que faça essa abordagem íntima e ajude-nos a encontrar nossas respostas, sentidos e significados mais profundos.

O perdão passa também pelo acolhimento e aceitação da nossa humanidade e da humanidade do outro, sobretudo, na superação dos traumas, porque só aceitando a condição fundamental do ser humano, de estar num processo contínuo de erro e acerto, é que a gente dá conta de conviver com os equívocos do outro que nos fere e até mesmo com os nossos mesmos. Naturalmente, nós só fazemos para o outro aquilo que fazemos para nós. Então, nós só conseguimos aceitar a humanidade do outro quando aceitamos a nossa própria humanidade, quando acolhemos em nós a nossa capacidade de errar e recomeçar, abraçando o autoamor como uma proposta de vida.

O autoamor é filho da humildade, uma das representações magníficas da amorosidade divina, aquela decisão interna de nos acolher, de nos tratar com ternura, compaixão e com a benevolência que nós necessitamos, embora com a firmeza necessária para domar as nossas paixões e renovarmo-nos de nossos defeitos que julguemos necessários. Então, o perdão é uma atitude de conquista desse estado de paz interior, através do entendimento das circunstâncias que nos envolvem e da decisão pelo amor.

Andrei Moreira

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