A dor da pandemia: o que o Coronavírus pode nos ensinar?
“A dor é o aguilhão que o impele para a frente, na senda do progresso. “
Kardec nos ajuda a refletir sobre o caráter pedagógico da dor.
Podemos dizer que um dos momentos pedagógicos da dor seria o estímulo ao progresso, pois a dor nos estimula a um crescimento psicológico, emocional, físico e intelectual, que tem como objetivo acabar com a própria dor.
Neste momento de pandemia, por exemplo, várias pessoas estão em laboratórios por todo o mundo estudando formas de criar uma vacina, de diminuir o número de óbitos, de conter os efeitos do coronavírus.
Podemos também pensar na dor como uma provocação profunda para uma viagem interna.
Pesquisas demonstram que estamos vivemos em atenção parcial constante, dividindo nossa atenção com a tecnologia, que nos leva a um processo de exteriorização. Quando estamos com um celular na mão ficamos como se estivéssemos fascinados. Tudo isso tem um custo, que gera empobrecimento das nossas relações pessoais que passam a se tornar superficiais. Como nos diz o sociólogo Zygmunt Bauman, vivemos numa sociedade líquida conectada com o externo, com o material e com o supérfluo o que torna cada vez mais difícil nos conectarmos com nosso interior.
Só que no momento da dor profunda, essa exterioridade e tecnologia perdem o sentido, não tem vídeo engraçado ou likes que vão fazer diferença na nossa vida.
A introspecção e o contato com Deus é que vão ser capazes de abrandar dores intensas.
André Luiz no livro Nosso Lar esclarece que “a dor para nós significa oportunidade de enriquecer a alma” nos obrigando a um processo do recolhimento, de introspecção.
Temos necessidade de dar sentido às nossas experiências, sobretudo aquelas que nos trazem sofrimento. Queremos entender “por que”, “para que”, “por que conosco”, etc. Viktor Frankl diz que a capacidade de enfrentar o sofrimento só é possível pela via da construção de sentido pois é o sentido que construímos que nos ajuda no fortalecimento físico e espiritual, e nos transforma como seres humanos. Mas as pessoas podem “se perder” nesse processo. Pode ser que elas vivenciem o sofrimento de forma traumática, quando não com um profundo estado de ansiedade.
Temos dificuldade de lidar com a dor pois vivemos numa cultura com excesso de prazer, onde a dor não é bem vinda e deve ser evitada. A partir do momento que os pais começaram a criar os filhos mascarando o sofrimento, criaram uma geração com baixa tolerância em lidar com as frustrações pois certamente uma relação permissiva não prepara o outro para vida. A criança que tem limites torna-se um adulto com capacidade de enfrentamento, com alto grau de tolerância a frustrações e, desta forma, é claro, uma pessoa mais feliz em seus diversos papeis. O “não” na hora certa proporciona o “sim” em grandes oportunidades.

As vezes uma doença faz por você o que religião nenhuma conseguiu fazer. A doença muitas vezes consegue te fazer refletir, pensar, avaliar escolhas e repensar a vida.
É incrível como as pessoas passam a vida inteira fazendo as mesmas coisas esperando resultados diferentes. Quem não aprende com a dor, acaba por repetir o erro, retornando a dor pois ao invés de aprender com ela, simplesmente sente a dor, culpa, projeta e não se responsabiliza por ela, muitas vezes culpando os outros.
A dor nos convida a fazer coisas diferentes para que os resultados mudem.
Esta pandemia é um convite de dor coletiva, tão coletivo que as diferenças vão ter que ser estacionadas para que juntos encontremos uma solução conjunta. É uma oportunidade de rever vários conceitos equivocados como a valorização das coisas materiais, das disputas por poder, das vaidades, do orgulho, das mágoas que trazemos em nosso coração. Que nos permitamos crescer espiritualmente valorizando o ser e não o ter, lembrando que somos espírito imortais e como tais estamos em processo de evolução.
A dor provoca em nós reflexão, crescimento, nos faz redefinir roteiros, caminhos e nos traz a valorização das pessoas amadas.
Que traga todo o aprendizado que temos nos recusado em valorizar, pois ela um recurso amoroso da pedagogia divina que nunca desiste de nós, percebendo a nossa insistência no equívoco e na fuga pessoal trás a dor como um recurso último de amor para acordar nossas almas entorpecidas.
Muita paz a todos
Equipe editorial do CAPO Bezerra de Menezes